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Jornal O Globo
Rio de Janeiro, 1º set. 2003. Caderno Informática etc. capa, pp 1 e 4.

Divas do Fotolog
por Marcelo Balbio


As duas se escondem por trás de personagens criadas numa mistura de fotografia, ficção e computação gráfica — e mexem, como ninguém, com a imaginação da turma que freqüenta o Fotolog, atual xodó da internet. Nos seus "livros de visitas" (a área onde os visitantes deixam comentários) há mensagens de todas as partes do mundo, escritas numa variedade de idiomas — mas as duas grandes musas do Fotolog são, curiosamente, brasileiras. Mais especificamente, cariocas.
Encarnando figuras femininas que têm mais em comum do que os retoques do Photoshop, Singoalla de Oliveira [sinistra] e Helena de Barros [helenbar] mantêm sites que são campeões de visitação a cada nova imagem postada. Sinistra, a babá gótica escravizada pela mimada Petunia, já é uma celebridade reconhecida nas ruas. Helenbar, uma Alice no País das Maravilhas do século XXI, ainda não chegou lá, mas, a julgar pelo entusiasmo que desperta entre os internautas, que não se cansam de enviar emails perguntando sobre sua vida fora da rede, está perto. Além da nacionalidade e do aventalzinho branco, fetiche entre
os marmanjos que percorrem os álbuns virtuais, as duas têm outras semelhanças: ambas se formaram em artes e planejam transformar em livro as suas ilustrações digitais. Com mais de 25 mil fotologs registrados, o Brasil é o país com a maior presença no serviço. Nos Estados Unidos, onde foi criado, o Fotolog não chega a sete mil usuários. Sabe-se lá por quê, os brasileiros superam, em número, todos os outros fotologgers, dos canadenses (803) aos japoneses (1.138), passando por franceses (255) e alemães (595). O fascínio de Sinistra e de Helenbar, porém, não se prende à torcida local. Na internet, como se sabe, tudo é universal.

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Helena de Barros, ela pinta, borda e costura. E é a própria Alice.
Há poucos dias, um visitante deixou uma mensagem no "Wonderland" parabenizando o fotógrafo, a modelo e o responsável pelo tratamento gráfico das imagens do fotolog. Helena de Barros "a real identidade de "Helenbar", autora do site e encarnação virtual da Alice de Lewis Carroll ˜ não chegou a passar a noite felicitando a si própria. Mas merecia. Sozinha, ela produz todas as imagens que compõem a recriação digital do País das Maravilhas. Gasta horas armando tripés e ajustando uma Canon S45 para se auto-fotografar ("chego a tirar mais de 40 fotos para aproveitar uma"), transcreve e traduz o texto de Carroll, inventa as fotomontagens, retoca as imagens e responde aos emails dos visitantes. Desde que publicou a primeira ilustração, há quase dois meses, viu a audiência do fotolog crescer de três visitas para seis mil em uma semana. A cada nova imagem, uma enxurrada de comentários entope o site. Na semana passada, depois de receber mais de cem mensagens numa web-página, precisou repetir o desenho em outra apenas para abrir novo espaço para comentários. "Tento criar pelo menos uma nova imagem por semana" explica ela, fiel da Santa Trindade câmera digital-scanner-Photoshop. Quem é a mulher que, imersa num cenário de fantasia e candura, tem despertado a curiosidade e a imaginação dos internautas com seus cabelos vermelhos, vestidinho azul inocência, avental branco e sapatinhos de boneca? Vamos à ficha técnica: Helena de Barros, carioca de Botafogo, tem 31 anos, 1,74m de altura e pesa 60 quilos. Seu cabelo original é castanho, mas a moça já esteve careca e brincou com todas as cores possíveis: verde, azul, rosa... Estava loura até pintá-lo de vermelho, com mercurocromo, e hoje a cor está mais para cenoura. Tem uma tatuagem no ombro (um "H" estilizado, desenhado pela própria), sabe costurar desde os 12 anos (também aprendeu a bordar e a fazer crochê), coleciona bichinhos de corda (tem uma chavinha pendurada no pescoço), vive percorrendo feiras de antigüidade e brechós da cidade, adora Oscar Wilde e terminou de ler a biografia do Zé do Caixão, freqüenta uma lista do Yahoo chamada "Rio Goth" ("não sou mais muito gótica, mas as pessoas são ótimas"), gosta de visitar outros fotologs (só os que têm ilustrações e fotos artísticas), confessa que é gulosa ("como de tudo, sushi, churrasco, massa, doce") e não dedica muito tempo a atividades físicas. É casada há cinco anos com outro designer gráfico, o Cellus e não tem filhos. É uma jovem de época. De várias épocas. Adora o vestuário do século XVIII, a literatura do século XIX, a moda dos anos 20, as cores dos anos 60, a estética black-dark-punk dos anos 80. Descobriu a informática em 1994, no último ano do bacharelado em desenho na Escola Superior de Desenho Industrial, da Uerj. Num esforço autodidata, conseguiu domar o Photoshop (versão 2.5 na época, "sem layer!") e encantou-se com o software. Hoje, dedica-se integralmente à carreira de designer, elaborando projetos gráficos, diagramação e arte-finalização de cartazes de filmes, painéis iconográficos para exposições e peças de publicidade, entre outros produtos culturais. Costuma brincar que tem três referências estéticas:
La Chapelle, Pierre & Gilles e Sinistra. Sinistra?! ˜Criei meu fotolog inspirada nela. Só me dei conta do potencial para divulgação do trabalho gráfico com o fotolog dela. Apaixonada por Lewis Carroll, com o cabelo já pintado de vermelho (tinha ido recentemente a uma festa à fantasia de Alice) e o figurino guardado no armário (confeccionou sozinha o vestido e o avental, cheio de babadinhos, rendinhas e 19 botões!), ela misturou fotos no caldeirão do Photoshop e preparou as primeiras imagens. Com a repercussão repentina, tomou gosto pela coisa e, tal qual a musa Sinistra, planeja lançar um livro com a coletânea das imagens. Fãs, aguardem. [X]

 

 

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