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Diário do Comércio
São Paulo, 9 set. 2005. Caderno Estilo, capa, p 20.

Pin-ups, na parede lolitas que encantam e seduzem
por Armando Serra Negra

Elas estão de volta. Desde o tempo das cavernas, o homo sapiens sente-se cada vez mais atraído pela beleza, sensualidade e magia das pin-ups.
Da pintura rupestre às iluminuras medievais, da fotografia às técnicas modernas de ilustração, a arte marôta de seduzir chegou ao topo tecnológico através da digitalização de imagens. Como as criadas por Helenbar (Helena de Barros) a pin-up da vez.
Premiada no projeto de graduação em design gráfico e novas tecnologias pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), é professora universitária e designer. Especializou-se no tratamento de imagens, utilizando o próprio corpo como matéria prima. Auto fotografa-se numa temática ampla e aleatória, causando frisson na comunidade on-line. Divulga suas foto-ilustrações retrô – no auge da moda – associadas à sensualidade e estilos da época.
"As pin-ups representam o que amamos, queremos amar, ou possuir", resume Mark Gabor em Pin-up – A Modest History (Pan Books, Londres, 1973). Qualquer coisa que possa ser pendurada na parede é – em essência – uma pin-up. Mas o termo abrange imagens impressas ou moldadas numa infinidade de outros produtos, como caixas de fósforo, camisetas, cartas de baralho.
História – Estatueta de pedra, a pré-histórica Vênus de Willendorf é a primeira de que se tem notícia. Suas formas denotam uma estética feminina arqueológica, que não pára de evoluir: das graciosas gordinhas renascentistas aos nus anos 40, 50, 60 e 70. Épocas distantes em que a mulher fascinava os homens naturalmente, sem photoshop, silicone, botox, lipo ou cirurgia plástica.
O termo pin-up veio à tona quando, em 1915, o repórter fotográfico George Miller pediu a uma artista russa, em visita a Nova York, que posasse para sua objetiva levantando um pouco a saia. Quando o editor viu a foto, exclamou: "Ora, isso é de pendurar na parede (pin-up)!". Verdade ou não, foi o começo de um modo de ilustração provocativa. Embora seu sucesso esteja no "sex-appeal" (apelo sexual), não devem ser confundidas com a arte erótica em geral. "A Vênus de Botticelli não é uma pin-up, mesmo que se possa pendurar sua reprodução na parede. Não foi criada com essa intenção: uma pin-up já nasce pin-up!", exclama Miss Ana (Ana Bandarra), outra aficcionada. "São Lolitas permeando a imaginação; intocáveis mas tocáveis, divinas e terrestres, fortes e vulneráveis", diz o engenheiro Eduardo Campos da Silva, referindo-se ao personagem pecaminoso de Vladimir Nabokov. Como tantos outros, ele alimenta uma coleção garimpando feiras de antigüidades.
"As pin-ups não ficam muito na vitrine; são difíceis de aparecer e fáceis de vender", avalia Seiko Yanagihara, da Central dos Antiquários em São Paulo.
Ícones – Os colecionadores são ávidos por elas. Vargas é o grande ídolo.
"Ele é o máximo!", concorda Helenbar. Peruano, Joaquim Alberto Vargas y Chaves (1896-1982) viu a fama atingir o auge entre 1960 e 1976, ao imprimir seus desenhos na revista Playboy norte-americana. Antes disso, retratou por 12 anos as coristas da Broadway, um dos primeiros a utilizar o aerógrafo. Seus originais tornaram-se verdadeiras obras-primas: no ano passado um deles foi arrematado em leilão da Christie’s, em Nova York,
por US$ 125 mil. "Se o século 19 teve retratistas como Gustav Klimt e Toulouse-Lautrec, a assinatura de Vargas, no 20, é incomparável", comenta Campos da Silva.
Pin-me-up! – Requisitadas durante a Segunda Guerra Mundial como mascotes, os aviadores as pintavam na fuselagem, marinheiros pregavam no beliche, soldados traziam dobradas no bolso. O antiquário Paulo Afonso Seefelder lembra que, em São Paulo, a fábrica de louças Zapp, no Tatuapé, produzia pin-ups de grande sucesso: "Ainda tenho uma a R$ 600,00", oferece. Muitas foram as estrelas de cinema que começaram assim. Entre as mais famosas, Hedy Lamarr – o primeiro nú nas telas; Marilyn Monroe – no calendário nua sobre veludo vermelho; Betty Boop, bonequinha de cinta-liga que acaba de completar 75 anos de idade. Mas não esquecer Brigitte Bardot, Ursula Andress, Barbarella (Jane Fonda), Lara Croft...
Nos últimos anos as pin-ups quase foram relegadas ao esquecimento, dando lugar à proliferação de publicações "impróprias para menores". Até as folhinhas de borracharia escassearam. Mas, como a história é cíclica, a moda "vintage" se renovando, elas reaparecem via internet: "Divulgo meu trabalho através de um blog - www.fotolog.net/helenbar - com mais de 600 mil visitas nos últimos dois anos", contabiliza. As musas integram um site de relacionamento - www.pinmeup.com.br - com 740 membros no Brasil. "Nos inspiramos no Orkut para formar uma comunidade interessada em fotografia e pin-ups; para participar é necessário receber convite, mas pode ser acessado livremente, com algumas restrições", diz Miss Jaya (Joana Mazza).
Miss Ana entrou na onda para divulgar a grife de sua confecção Voodoo Doll: "São roupas femininas dedicadas a vestir as pin-ups modernas – de lingeries a roupas de banho e vestidos glamurosos". Dos quatro concursos internacionais que participou, suas fotos venceram dois, ficando em segundo e terceiro lugar nos outros. "Depois que comecei a fazer fotos de pin-ups, minhas e de amigas, não parei mais!". Curta-as: www.fotolog.net/rockin_wear. Helenbar criou postais numerados das suas personagens, que esgotaram rapidamente. "Meu trabalho é artesanal, inviável para comercialização em grande escala sem patrocínio". Habilita-se? Dou-lhe uma, dou-lhe duas...
pin-up! [X]

 

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