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Revista POP
disponível em <http://poprevista.com.br>. Acesso em 3 jul. 2005.

O maravilhoso mundo de Helenbar
por Daniel Silveira


Era uma vez...

Conheça um pouco mais sobre Helena de Barros, mais conhecida como Helenbar, a designer que une o talento e a criatividade de forma perfeita.

A superficialidade, auto-exposição e o desespero pela tão sonhada "fama" é o que impera atualmente nos fotologs. O oposto desses flogs são os artistas com fotografias, arte ou colagens digitais, que na verdade, são o verdadeiro intuito do fotolog.net. Uma das musas dos fotologs artísticos é a capa da segunda edição da POP: Helena de Barros, mais conhecida como Helenbar, designer carioca de 32 anos. Com uma enorme atenção e ajuda recebida dela, pudemos realizar um bom trabalho e uma interessante entrevista que você acompanha agora, nas páginas a seguir. Ah! e e não esqueça de colocar o babador!

RP :: Sabemos que "Helenbar" vem da mistura do seu nome "Helena" com o seu sobrenome "Barros". Esse nome só é mencionado em seus trabalhos apresentados no fotolog ou normalmente você o utiliza em outras situações?
Usava "helenbar" só como enderço de e-mail, quando me cadastrei no fotolog, nem me dei conta que seria nick. Só uso no fotolog e internet, em trabalhos profissionais continuo assinando "Helena de Barros".

RP :: Você ficou internacionalmente conhecida pela sua famosa sessão de fotos inspiradas em "Alice no País das Maravilhas". De onde veio essa idéia?
A Alice aconteceu meio acidentalmente, sempre tive fascinação pela história e pelo trabalho do Carroll. Fiz o vestido pra uma festa à fantasia, e o que seria uma foto só de curtição acabou virando a história inteira.

RP :: Qual foi a sua reação ao ver tamanha aceitação das pessoas e a repercussão que isso teve, sendo reconhecido até pela revista Knight Letter, publicação da Lewis Carroll Society Norte Americana?
Não tinha a menor idéia da proporção e reconhecimento que este trabalho iria tomar. O que era apenas um hobby, de repente se tornou uma grande motivação pessoal. Fiquei de queixo caído, desde a primeira matéria que foi a capa do caderno de informática do Globo, e depois, tantas outras em jornais e revistas nacionais até a "coroação" com a publicação no Knight Letter da Lewis Carroll Society Americana e a inclusão do link no site da Lewis Carroll Society do Reino Unido. Pra mim foi uma surpresa e uma grande honra, como receber um prêmio, ser reconhecida pelo público e até internacionalmente pelas maiores autoridades no assunto. Me senti plenamente realizada, uma certa sensação de "missão cumprida". Além disso, esta troca de informação direta em tempo real com gente do mundo todo é uma possibilidade muito recente, que só é possível depois de ferramentas como o fotolog. Para o artista é um grande estímulo ter um público constante interagindo com o seu trabalho. Conheço muitas pessoas que só começaram a produzir porque tinham este espaço de exibição. É simples, eficiente e praticamente gratuito, não se compara ao investimento que é montar uma exposição de verdade, e o retorno é muito gratificante.

RP :: Lewis Carroll, autor das obras de "Alice", é conhecido pelo seu fascínio por crianças, temas infantis e esse mundo de imaginação. Você ainda se sente inspirada por Carroll e continuar um trabalho com temas e personagens de histórias infantis?
Gosto muito de histórias infatis, não sei se pela nostalgia ou pelo imaginário fantasioso. Sempre me sentirei inspirada por Carroll, ele marcou meu jeito de ver as coisas desde a primeira vez que o li, há uns 15 anos atrás. Acho que "Alice" muda um pouco a forma da gente encarar a realidade, de levar as coisas menos a sério, perceber a surrealidade da vida e como o nosso cotidiano também faz tão pouco sentido. Um dia gostaria de trabalhar também com os contos infantis do Oscar Wilde, que é o meu escritor favorito.

RP :: Os novos trabalhos que você tem apresentado cresceu no número de detalhes, cores e buscando inspirações em obras de arte e artistas importantes. Seus trabalhos sempre tiveram um pouco dessa referência artística ou você está descobrindo agora essa atração?

Meu projeto de formatura, de 1994, foi inspirado em Van Gogh, Artaud e Nijinski. Sempre curti trabalhar a partir de refêrencias e releituras, mas antes fazia muita coisa que ficava "guardada na gaveta". Foi só depois do fotolg que comecei a expor o que eu fazia e me utilizar como personagem das imagens, mas comecei a me sentir muito presa à Alice. Ainda não terminei a história, mas resolvi relaxar e fazer outras coisas que me dão vontade também.

RP :: De quais artistas, escritores, fotógrafos vem essa inspiração?

Escritores: Oscar Wilde, Albert Camus, Artaud, Marquês de Sade, Bukovsky, Proust, Fernando Pessoa, Guimarães Rosa… Artistas: Pierre et Gilles, Joel Peter Witkin, Gilbert & George, Antony Gormley, Jeff Koons, John Waterhouse e os pré-rafaelitas de modo geral, Klimt… mais recentemente Mark Ryden e Ray Caesar. Acho que alguns cineastas me influenciam muito também como Polanski, Cronemberg, John Waters, Brothers Quay, Tim Burton, Neil Jordan, David Lynch… Também coleciono santinhos, fotos, ilustrações e referências de moda do final do século XIX e começo do século XX.

RP :: O trabalho no processo de produção dessas novas imagens é mais difícil ou praticamente o mesmo processo das fotos de Alice? Quanto tempo dura esses trabalhos, da idéia da foto até a finalização da imagem no computador?
O processo é praticamente o mesmo, mas na Alice além de ter que seguir o texto, tem a composição dos personagens, que é bastante complexa. A maioria das imagens aparecem meio prontas na minha cabeça, não faço nenhum esboço. O que dá mais trabalho é transformar a idéia em algo concreto, com o mesmo clima da imaginação. Depende muito da complexidade da cena e quantidade de elementos. Às vezes a produção da imagem começa muito antes da foto em si, na criação e confecção das roupas, na busca de referências e imagens, maquiagem, penteado. Este é um tempo meio subjetivo que não dá pra contabilizar. As sessões de fotos podem levar de 40 minutos a 4 horas. Como não consigo me ver no momento do click, tiro em torno de 40 a 120 fotos para selecionar os elementos que vou utilizar, depende muito da pose e da expressão. Pra cada imagem, em torno de 30 a 40 horas de manipulação no computador, é uma média, pois trabalho aos poucos, no meu tempo livre, normalmente de madrugada e nos finais de semana. Nesse esquema, a imagem da "Quadrilha da Lagosta", por exemplo, demorou mais de um mês e meio sendo construída.

RP :: E como é o processo desses trabalhos?

Me fotografo em casa, com minha câmera digital com timer no tripé, normalmente de manhã, para aproveitar a luz do dia. Escolho as melhores partes de cada foto e monto uma espécie de "frankstein", com um pedaço de cada imagem. Quando o corpo está montado, construo os outros personagens e elementos de cena. Seguem-se os recortes, retoques e ajustes de cor. Não uso filtros, nem efeitos pré-formatados. É um processo muito artesanal mesmo, próximo da pintura, só que em vez de pincel, trabalho com uma tablet. Depois de tudo montado, fico muito tempo aperfeiçoando detalhes, cores, contraste e ajustando a composição final. As vezes deixo a imagem "descansar" um pouco, pois a gente sempre vê o trabalho com outros olhos, depois de um tempo. Só considero terminado quando estou plenamente satisfeita.

RP :: Quais equipamentos você usa para trabalhar? (câmera, computador...) E onde são feitas?
Uma camera canon s45, meu mac velho de guerra (um G3 minitower), tablet da wacom e photoshop 7.0. Tudo é feito em casa.
É preciso muita competência pra realizar esse impecável trabalho totalmente sozinha. Há quanto tempo você trabalha nessa área e qual a sua formação?
Fiz escolinha de arte, desde os 8 anos de idade e mais tarde, vários cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Me formei em design gráfico pela ESDI/UERJ. Trabalho na área há onze anos.

RP :: Você trabalha somente com manipulação de imagens ou realiza outros tipos de trabalho?

Minha atuação profissional é bastante voltada para área cultural, principalmente projetos gráficos de impressos, como catálogos, cartazes, capas de CDs e livros de arte. Me especializei em manipulação de imagem trabalhando com montagem de painéis de grande formato para exposições. Faço a manipulação dos meus próprios projetos e também serviços específicos para publicidade.

RP :: E onde seus trabalhos podem ser vistos?
Eles estão circulando por aí, mas o conjunto completo só no meu portfólio mesmo, não há versão online ainda.

RP :: Recentemente algumas de suas imagens começaram a ser comercializadas como cartões. Como surgiu a idéia? E o resultado foi o esperado?
Foi um convite. São cartões muito artesanais e o produto foi direcionado a um público muito restrito.

RP :: Foi a primeira vez que trabalhos pessoais viraram produtos à venda no mercado?
Como trabalho autoral, sim.

RP :: Você realizou uma palestra numa escola superior de Desenho Industrial. Esse trabalho é freqüente? Interessados podem entrar em contato?
Me formei pela Esdi e já fui convidada algumas vezes para falar sobre meu projeto de formatura, que foi premiado. Mas esta foi a primeira palestra sobre meu trabalho autoral. Foi ótimo, é sempre um prazer poder compartilhar experiências.

RP :: Deixando o trabalho de lado, como é a Helena? O que ela faz pra se divertir, se distrair?
Adoro ir à feiras de antiguidade, cinema, festas, receber os amigos em casa e costurar. Além de fazer as minhas imagens, atualmente, minha maior diversão.

RP :: Pra finalizar, duas perguntas relacionadas à essa revista. Você se considera uma pessoa "POP"?
Não. Acho que "pop" hoje em dia é uma palavra associada ao conceito de celebridade. O que me interessa não é a visibilidade da minha vida pessoal, mas a visibilidade do meu trabalho, que dá credibilidade para realizar meus próprios projetos, ou cria vínculos com pessoas com as mesmas afinidades. Do ponto de vista pessoal sou bastante introspectiva.

RP :: E o que achou dessa nova proposta para fotologgers?
Acho ótima. O fotolog se tornou uma rede de comunicação poderosa com um conteúdo muito interessante, mas que pode ser também muito superficial. É muito bom poder conhecer melhor o que há por trás de um comentário curto e uma foto.

 

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